quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Daisy


Daisy passou muito tempo tentando entender o porquê estava tão sozinha. Às vezes achava que ninguém se importava com ela. Passava horas na janela observando o movimento na rua. Via que não era somente ela que se sentia sozinha nesse mundo. Pensava que naquele mesmo instante, talvez muitas pessoas estivessem em suas janelas, paradas, olhando o que se passava nas calçadas. Os olhos de Daisy apesar de jovens já mostravam muito sofrimento. Não pelo fato de estar sozinha, mas porque nunca tivera a oportunidade de ter uma família de verdade. Tudo que aprendeu foi através de livros velhos que havia em uma estante perto de seu quarto. Apesar de velhos, os livros sempre traziam novos conhecimentos aos olhos de Daisy. Sonhava em aventurar-se por todos os cantos do mundo. Às vezes batia em seu coração um sentimento ruim que petrificava sua mente. Mas Daisy sempre usava sua imaginação e logo renovava sua fé. Às vezes costumava descrever o sentimento de liberdade que tinha tanto anseio olhando para as nuvens. Não sabia muitas coisas sobre o que é realmente a vida. Mas sabia que a vida não é um jogo fácil em que quando se comete um erro pode retornar ao início. Na vida os erros que cometemos não podem ser simplesmente apagados, mas concertados. Cada dia, dizia Daisy, é uma nova página que escrevemos. Mas não usamos lápis nem papel para escrever nossas vidas. Contamos a história de nossas vidas através de nossas atitudes diante dela. Daisy havia sido abandonada aos sete meses de idade. Cresceu sem uma família que pudesse acolhê-la com carinho e amor. Mesmo assim Daisy não desistia de se mesma e sua vida. Não tem nenhum tipo de ódio, apenas um pouco de receio ao pensar que seu futuro seja mais solitário. Ela tem medo sim, pois uma vida solitária é umas das piores coisas que podem acontecer a alguém. O abandono físico ainda se supera, mas o abandono afetivo causa danos irreversíveis, que dificilmente são apagados. E assim, na esperança de um dia encontrar alguém que possa lhe dar uma nova vida, Daisy passa seus dias na janela, olhando o vai e vem de carros e pessoas que entorpece sua mente.

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